Teu vizinho,pode ser cristão,
e não saber explicar porquê,
mas falando,discutindo a questão,
êle pode ver aquilo que não vê,
e interrogar-se por que razão,
devemos andar,de Deus à mercê.
Se Deus é justo,misericordioso,
porque criou êste Mundo ominoso?
O Homem criou Deus à sua imagem,
à medida do seu egoísmo e tirania,
e levar,da Humanidade,toda a vantagem,
é que cada Religião tenta à porfia,
sempre assim usou a malandragem,
a Religião,o terror,a malfeitoria,
causando aos Povos enormes danos,
explorando,esmagando os Seres humanos.
Mas o Povo,sempre eterno crente,
temendo aquilo que desconhece,
aceita medroso,fiel,temente,
as Leis que um Profeta tece,
e o Sacerdote actua como agente
do Deus,que dá o Céu a quem merece,
mas em troca de grandes sacrifícios,
o Povo suporta dôres,malefícios.
Porque os Profetas,agentes do Céu,
ao serviço dos Reis e Poderosos,
defendem não só o que é seu,
mas também contéem os revoltosos,
e dizem que aos Reis,foi Deus que deu
a autoridade,as Leis e reais gozos.
O Povo deve servir Deus e o Rei,
a autoridade é divina,está na Lei.
Nesta comédia,nesta exibição,
fazendo parte da mesma Seita,
há naturalmente a social divisão,
entre a Plebe e a casta eleita,
e destacada vai na Procissão,
a Burguesia local,bem satisfeita.
O Prior abençôa a multidão,
que espera de Deus,a salvação.
E a Plebe ignorante,compungida,
temendo as penas do Inferno,
aceita conformada a sua vida
triste,como o próprio inverno,
toda de sacrifícios,e vencida,
espera com fé,no Deus eterno,
que lhe perdôe,e lhe dê no Céu,
o que na Terra,Deus não lhe deu.
Mas quem sou eu p'ra clamar assim?
Filho da Plebe inculta ignorante,
filho da pobreza,pobre de mim,
nêste Mundo de pulhice imperante,
só penso que um dia terá fim
a exploração fria e humilhante
do mundo do trabalho e servidão,
e do Proletariado,um dia a Revolução.
Mas Revoluções,muitas houveram,
desde as dos escravos no Império romano,
e contra todas elas se abateram
as fôrças dum ou doutro tirano.
E as Religiões,o que fizeram?
Prégaram a submissão,o abandono
nas mãos de Deus,e até à morte,
o pobre vai esperando melhor sorte.
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